Há alguns anos vivemos em
nossas ilhas: condomínios fechados, shoppings, carros com
ar-condicionado, janela insulfilmada fechada e portas travadas.
Convivemos só com nossos iguais, não ocupamos os espaços públicos por
serem “cheios de bandido e maconheiro”, temos medo daquele moleque
magrelo que ouve funk no metrô e encaramos com naturalidade quando
governantes colocam pedras debaixo de viadutos e divisórias em bancos de praça, afinal, ali não é lugar de vagabundo.
Aí, de repente, a molecada sai dos seus cantos na periferia e insiste
em ser visível. Meu Deus, eu pago meus impostos, fico meia hora
procurando vaga aqui no shopping pra poder dar um passeio saudável com a
minha família, quero poder consumir sem medo aqui onde só tem gente
como eu, afinal, eu trabalho tanto pra quê, pra poder comprar, né? Mas
pelo jeito eles insistem em invadir nosso espaço, o que aconteceu com
aquela música “Cada um no seu quadrado”? Chegam em bandos, falando alto e
com gírias que eu não entendo, com seus bonezões de aba reta e suas
calças largas com a cueca aparecendo pra nos assustar(quanto mau
gosto!), e, ainda por cima, ouvindo esse tal funk ostentação, música que
só gente sem berço poderia criar.
O que eles pensam, será que
não tiveram educação? Puxa vida, vocês podem se divertir, mas fiquem
nos seus bairros, onde vocês são quase invisíveis e eu posso continuar
fingindo que está tudo bem enquanto eu tiver dinheiro pra ter meu carro e
fazer compras no shopping. Volto a repetir: cada um no seu quadrado!
Mas tudo bem, o shopping nos protege, ele entra na Justiça, e como a
Justiça adora manter as coisas como são pra evitar problemas, ela proíbe
o rolezinho. O quê? Eles vieram mesmo assim? Tou dizendo que esses
vândalos não respeitam nada, não têm educação, que escola será que eles
frequentaram, hein?
Sorte que existe a polícia, né? E dá-lhe
bala de borracha, gás de pimenta e cacetada nessa molecada que insiste
em estragar o passeio das pessoas de bem nesse templo sagrado que é o
Shopping Center.
Fala Thiago!
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
A fidelidade masculina
Não vou escrever sobre por que os homens traem, nem se traem
mais ou menos do que as mulheres. Na verdade acho que ambos traem com a mesma
frequência, talvez por motivos diferentes; o que acontece é que, enquanto uma
mulher pode sair durante meses com o cara que ela conheceu na academia sem nem
a irmã saber, o cara sai duas vezes com uma mulher do trabalho e logo até o
porteiro tá sabendo.
Mas hoje vou falar sobre a fidelidade dos homens ao seu
barbeiro ou cabeleireiro. Muitas vezes ouvi mulheres com quem trabalhei falando
que a Márcia tá com um preço ótimo nas luzes, que a Fátima faz a melhor escova
permanente da cidade ou que quando a ocasião é especial ela vai ao salão da Fabíola,
porque lá dá pra fazer tudo em um lugar só.
Homem em geral não faz isso. Ok, deve ser estranho pra quem
me conhece eu escrever sobre esse assunto, afinal, sou careca há uns sete anos.
Mas, embora ainda escute risinhos quando digo que estou indo cortar o cabelo,
eu vou. No meu primeiro corte, quando tinha um ano e cabelo encaracolado, meu
pai me levou ao barbeiro dele, e lá fiquei até meus 13 anos. Só parei porque
ele ficou velho e coincidentemente ficou doente quando começou a cortar orelhas
e deixar falhas no cabelo dos fregueses. As falhas ele deixou no meu cabelo, o
corte foi na orelha do meu pai. Aí passei mais uns dois anos cortando com dois
caras que tinham salão meio longe, ficaram careiros e depois cada um teve seu
salão, mais uns quatro em um cabeleireiro perto de casa, e parei quando ele
resolveu que não ia mais cortar cabelos, mas fabricar sacolas de plástico pra
supermercados.
Coincidentemente, foi aí que comecei a fazer Tiro de Guerra
(pra quem não sabe, é um quartel mais light, só de manhã e umas 2 ou 3 guardas
por mês) e de 15 em 15 dias dois cabeleireiros iam lá raspar nosso cabelo pela
metade do preço que cobravam. Um deles, mesmo recebendo menos, fazia o trabalho
direito, enquanto outro fazia correndo. A gente sabia só de olhar pros cabelos
uns dos outros com quem você tinha dado a sorte ou azar de raspar o seu.
E aí entra a tal fidelidade. Desde então eu raspo meu cabelo,
e de um ano pra cá acerto a barba, com esse mesmo cara, o Fabiano, o que
raspava direito. É um ritual ir ao barbeiro/cabeleireiro, é a oportunidade de
falar sobre política, trabalho, mulher e futebol sem se preocupar, simplesmente
ir falando o que der na telha. Hoje vejo que essa fidelidade tem paralelo com
outra fidelidade, a de uma pessoa a seu time de futebol: ele é santista, viúva
de Pelé, Robinho e agora Neymar, eu sou corinthiano, atualmente viúvo de gols.
Em 99, ano em que fiz o Tiro de Guerra, o Corinthians tinha
provavelmente o time mais forte tecnicamente da sua história, com Dida, Rincón,
Vampeta, Marcelinho, Luizão, Edilson, Ricardinho; o Santos tinha um time mediano
e vinha em um jejum de 15 anos sem títulos. Essa fidelidade passou pela (semi)final
antecipada do Paulista de 2001, em que quem vencesse estava com a mão na taça,
pois com certeza derrotaria o Botafogo de Ribeirão na final. O Corinthians fez
um gol nos acréscimos e eu tive combustível pra tirar sarro dele no meu próximo
corte. Aí veio 2002, e aquela final em que Robinho e Diego acabaram com meu
time, então o favorito. Teve 2004, em que o Santos foi campeão e o Corinthians
precisou do Tite pra sair da zona de rebaixamento para terminar em um então
mais que suficiente 5º lugar.
Claro, não posso deixar de lembrar aquele eterno 7 x 1 em
que Nilmar e Tevez deitaram e rolaram, esse foi mais ou menos como a pedalada
do Robinho, um tirava sarro e o outro nem tinha o que dizer, só sorria amarelo.
Aí vieram Ronaldo, Neymar, os times ganhando Libertadores em anos consecutivos
e ultimamente nenhum dos dois tem muito o que dizer, o Santos tem um time meia-boca e o
Corinthians um time forte no papel, mas que na prática não faz gol nem com
macumba ou reza braba e que dá sono de assistir.
Mas e aí, eu continuei morando em Avaré todo esse tempo pra
continuar cortando cabelo com o mesmo cara? Não, de 2000 pra cá morei um tempo
em Londrina, em Santos e Botucatu, anos em Bauru, um ano em São Paulo e agora estou
há mais de dois anos em Campinas. Mas nas minhas idas mensais a Avaré sempre
teve isso, ir ao Fabiano dar uma acertada na careca, tirar sarro do Santos ou
aguentar ele tirando sarro do Corinthians.
Aliás, Fabiano, vai abrir o salão no sábado do feriado?
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
Sobre pessoas e gavetas
Temos mania de engavetar as pessoas. Não tou falando no
sentido de guardar pra depois, mas de separar as pessoas em gavetas, como a
gente faz com cuecas e meias. As meias vão nessa gaveta, as cuecas naquela...
Uma meia não serve como cueca, uma cueca não dá pra usar como meia.
A questão é que pessoas não são meias nem cuecas, e a gente
as classifica porque é mais cômodo, mas fácil ver as pessoas assim. Acho que
algumas obras de ficção também ajudam, elas estão cheias de estereótipos,
poucos autores são capazes de passar a complexidade que é o ser humano.
Se a gente não conhece alguém, mas sabe que essa pessoa
gosta de muito de ler, provavelmente vamos pensar nela como o gordinho tímido
que mal consegue fazer contato visual, se alguém diz que gosta de novela,
pensamos que deve ser alienada, se admite que gosta de ir à academia, deve ser
daqueles que não sabem nem o nome do prefeito e malemá escreve o nome. Se uma
mulher transa no primeiro encontro, vai pra gaveta das fáceis,- como se uma
pessoa seguir a própria cabeça e fazer o que sente vontade fosse defeito- se um
cara te trata bem, é pra gaveta dos legais, se trata com desprezo, deve ser a
versão acessível do Wolverine. E a gente repete esse padrão em tudo, na visão
política, no trabalho...
Quantas vezes não nos permitimos conhecer direito alguém,
seja um amigo, colega de trabalho ou alguém por quem temos ou que tem na gente
algum interesse pessoal? Quantas vezes colocamos as pessoas numa gavetinha e
não permitimos que ela mostre que é muito mais do que a gente está vendo, que gaveta
não é lugar pra pessoas?
Na época de Unesp cansei de ouvir o pessoal da comunicação
dizendo que engenheiro é tudo tapado e engenheiro dizendo que na comunicação só
tinha vagal e bicho grilo. Claro que eu também já fiz brincadeiras assim, mas me
cuidava pra que isso ficasse só na piada, na provocação. Nunca deixei de ser
amigo de alguém porque ele parecia se
encaixar em uma gaveta que não me agradava. Se a gente percebesse quanta gente
legal deixamos de conhecer porque nos recusamos a vê-la como uma pessoa real,
cheia de contradições e paradoxos...
Não vá pelo caminho mais fácil, não coloque as pessoas numa
gaveta etiquetada, elas são mais complexas do que parecem dentro das gavetinhas
que você criou na sua cabeça. Ah, se isso tem algo de autobiográfico? Claro, eu gasto
dinheiro com livros e whey protein e não sou nem o gênio letrado nem a porta
bombada que só sabe contar o número de repetições do supino.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
Crescendo
Aprender a pegar laranja e
mexerica no pé com os tios, aprender os nomes dos bichos de plástico com um
deles, querer ajudar o pai a consertar a moto da empresa e quebrar o farol na
martelada. Ouvir história do Cascão, brincar de jogo da memória com sua tia,
ganhar e até hoje não saber se você era bom ou se ela deixava, apanhar morango
na horta com a outra tia, esperar sua tia de Santos no Natal. Dormir à tarde
pra poder ver filme que acabava tarde, crescer brincando na rua de terra, brincar
de Playmobil fazendo buraco nessa rua de terra. Polícia e ladrão, mãe da rua,
esconde-esconde e pega-pega na rua sem perigo de ser atropelado. Esperar os
primos na Páscoa, nas férias de julho e no Natal. Ir com eles comer cachorro
quente nos trailers da Concha Acústica e depois tomar sorvete na Eiffel ou na
Golfinho. Jogar bola na rua e no quintal da vó até ela xingar porque quer ver
televisão. Ver sua mãe ir na sua escolinha descobrir qual o doce que você viu
um menino comendo e tá com vontade. Ir pra escola sozinho desde pequeno sem
isso ser nem um pouco perigoso. Ver sua cachorrinha correr pelo quintal, ficar
velhinha e morrer dormindo, jogar capucheta com pedra pra cima e na queda essa
pedra acertar a cabeça duma criança bem quando seu pai tá passando. Jogar bola
na rua de cima. Soltar pipa que o seu amigo empinou pra você porque você não
sabe, bolinha de gude que você é meia-boca, bater bafo, jogar botão e finalmente
ser bom numa brincadeira dessas tradicionais. Trocar figurinha do Campeonato
Brasileiro, da Copa e do Ping-Pong.
Ter uma das letras mais feias e uma das
melhores notas da classe, ser representante de classe sem saber exatamente pra
que serve além de buscar giz pra professora. Ver a primeira Copa na hora do
almoço e achar a coisa mais legal do mundo, comemorar o primeiro Brasileirão do
Corinthians levado nas costas pelo Neto, ir brincar na casa dos amigos de
escola, não gostar de videogame, passar a gostar de videogame, assistir Mundo
da Lua, pegar santinho no chão em dia de eleição. Mudar de casa, fazer amizade
com a molecada da rua nova, jogar bola na rua nova o dia inteiro, ter um time
pra jogar contra time de outros bairros, outras escolas, outras ruas. Estudar
inglês desde pequeno, ser ruim em matemática na escola mas aprender a fazer
conta de cabeça e perceber que você faz dum jeito esquisito como seu tio, andar
de bicicleta com uma gangue duns 15 moleques nas noites quentes, achar superlegal
quando seu tio de Brasília chega do nada numa quinta-feira e quer ir pra
represa, descobrir o computador mas logo achar que não tem muita graça e só
voltar a ele anos depois. Assistir Anos Incríveis e quase decorar os diálogos
de tanto ver, começar a ter bronquite, entrar no tae kwon do, ser escalado pra jogar de volante e ir pra frente tentar fazer gol,
entrar pra natação, fazer acupuntura e sarar da bronquite. Sair da natação
porque acha chato, entrar na musculação porque pesa 49kg, ser um adolescente
cheio de amigos mas meio tímido, saber os nomes dos jogadores de todos os times
da Copa, ver o Romário arrebentar na Copa, descobrir que o Aldair joga muito,
detestar o São Paulo por ganhar tudo, detestar o Palmeiras por ganhar tudo,
simpatizar com o Santos por não ganhar nada.
Começar a ir na domingueira com 13
anos, começar a sair de sábado com 15 sem seus pais acharem que você vai morrer
ou ser sequestrado, comer cachorro quente no China ou lanche no Cavalinho. Passar
pela moda da botina, da camisa xadrez, do moletom Hard Rock e Planet Hollywood,
faltar na primeira aula da segunda porque a domingueira foi cansativa. Ver o
Gamarra jogando e descobrir que zagueiro também pode ser craque, ver seu time
ganhar dois Brasileiros seguidos com um time de dar inveja, achar que quer cursar
Educação Física, usar esparadrapo no braço pra dizer que foi fazer exame de
sangue, poder dormir mais e entrar na segunda aula, parar de usar essa desculpa
quando a inspetora começa a olhar estranho. Terminar o colegial sem saber o que
vem pela frente mas achando que obviamente vai dar tudo certo, fazer 18 anos, perder
dois amigos logo que o colegial acabou e descobrir do pior jeito que não é só
velho que morre, dar ainda mais valor aos seus melhores amigos. Ter 18 anos e
achar que já cresceu. Mal sabia eu que ainda tinha muito pela frente.
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Não é só mais um caso de nostalgia...
Mudar de cidade e começar do zero nunca foi problema pra
mim. Procurar onde morar, recorrer a amigos que já moram na cidade, conhecer
uma nova vizinhança, olhar o mapa da cidade para não me sentir perdido,
descobrir quais linhas de ônibus levam pros lugares que preciso ir, achar uma
academia, mercado, nada disso é problema pra mim, pelo contrario, eu gosto.
Entre passagens bem curtas e maiores, essa é minha sétima cidade. Hoje, moro em
Campinas.
Há cerca de 10 dias fui para Avaré votar, como faço desde
1996. No sábado saí para andar, ver a movimentação eleitoral, ver como estava a
cidade. No domingo votei na minha antiga escola, fui com meu pai até onde ele
vota, vi pessoas, vi mais lugares familiares. E foi então que eu tive certeza
de algo que talvez eu já soubesse, mas que nunca havia parado pra pensar. Estou
bem em Campinas, gosto do meu trabalho, fiz novos amigos, retomei contato com
outros e a cidade não tem aquele frio avareense que nunca me agradou. Talvez eu
viva aqui o resto da vida, talvez me mude de novo, quem sabe? Mas por mais que
esteja bem com meu presente, Avaré está em mim, em quem eu sou, no meu sotaque
caipira, é o lugar em que eu sempre terei casa.
Vivi lá até meus 20 anos, meu tetravô fundou a cidade, toda
minha ascendência paterna, tanto pelo lado da minha vó quanto do meu vô está lá
desde a fundação, quando a cidade ainda era um povoado e se chamava Rio Novo.
Foi lá que minha mãe ficou, casou e fez sua carreira, depois de morar em 10
cidades até os 17 anos. É naquela vizinhança, perto da CAIC, do Industrial, do
Bar do Seu Dito e da linha do trem, que eu cresci; é ali que os vizinhos mais
velhos que talvez nem se lembrem do meu nome dizem oi pra um dos meninos que
viram crescer, o filho do Abel, neto do Apparecido e da Therezinha. E foi no
quintal desses dois que eu brinquei, joguei bola, esperei meus primos nas
férias de julho e no Natal. Foi ali que um tio me ensinou a apanhar laranja do
pé, mesmo que até hoje eu não consiga tirar a casca inteirinha como ele, foi
quando eu morava ali que outro tio me emprestou os primeiros CDs que eu ouvi,
que uma tia me levava na horta do meu vô pra colher morango e que outra tia
contava a história do Cascão que colecionava tampinhas de garrafa e pneus
velhos. Além desses, havia os que moravam fora, que eu esperava ansioso pois
com eles vinham meus primos. É ali que mora minha vó, que sempre pergunta de
mim pros meus pais e é ali que 8 anos depois ainda sinto falta de alguém
quando chego e não vejo meu vô.
Nessa cidade tive meu primeiro emprego, ali fiz amigos pra
vida toda, gente com quem eu cresci, brinquei, entrei em brigas, joguei bola e
comecei a sair, quando íamos nas domingueiras da Associação. O começo da minha
história está ali, e ali estão as pessoas para quem eu talvez nunca tenha dito,
mas que sempre pude contar a qualquer momento, meus pais. E só agora, aos 32
anos, paro e vejo o óbvio, a cidade que foi praticamente meu nome durante a
faculdade e que pra muitas pessoas é meu nome até hoje, a cidade do interior
com tudo de bom e de ruim que cidades pequenas têm, o lugar do frio gelado que
sempre ataca minha rinite é um lugar que sempre vai fazer parte de quem eu sou,
sempre vai ser uma parte muito importante da minha vida. E isso não é só mais um caso de nostalgia...
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Como a política pode ensinar a só enxergar em preto e branco
Época de eleição é uma época em que aprendemos muito. Eu, por
exemplo, aprendi duas respostas que tou pensando em usar quando fizer alguma
cagada:
- Thiago, você não
pagou aquela conta que pedi e ficou com o dinheiro pra você?
- Eu não paguei, mas
todo mundo faz isso, todo mundo deixa de pagar e gasta em cerveja. Mas o PIG,
Partido da Mídia Golpista, fala como se só eu não pagasse, são uns vendidos.
Isso é culpa da Veja, eu sou inocente! Além do mais, fiz isso pelo bem comum,
antes de eu fazer isso tudo era pior e bem mais injusto, nunca antes na história
dessa conta que eu não paguei esteve tudo tão bem.
OU
- Thiago, por que você
xingou aquele cara que tava pedindo um prato de comida perto do restaurante?
- Eu não xinguei, só
não aguento essa gentinha, sabe esse tipo que só quer se encostar no bolsa
família? Bando de vagabundo, se tem gente pobre que consegue virar juiz, como
nosso herói Barbosa, por que esse safado da frente da padaria não vai
trabalhar? Culpa desses petralhas que inventam essa história de cotas, que
falam como se nosso pais não desse as mesmas chances pra todo mundo, é só
querer! Comunistinhas safados!
Pronto, com duas respostas-padrão dadas pelos dois lados da força
você enrola e, se precisar, ainda joga a responsabilidade pelo que fez nas
costas dos outros. Sem falar que um monte de gente te olha admirada, pensando
que você é um cara politizado, inteligente. Viu como a gente aprende com o
pessoal que tem consciência política? O que seria de nós, reles mortais, se não
fosse esse pessoal que vê tão claramente o bem e o mal em tudo, né? A gente
fica achando que as coisas tem várias nuances, mas o pessoal politizado nos salva
quando mostra quem é o mocinho e quem é vilão. Obrigado Paulo Henrique
Amorim, obrigado Reinaldo Azevedo, obrigado Pereio, obrigado Roger, sem vocês eu
seria somente mais um alienado ingênuo.
Mas peraí, e agora,
que lado está certo, quem tem razão? Ah deixa pra lá, vocês são só dois lados
da mesma moeda, gralhas donas da verdade que só enxergam em preto e branco. Eu,
felizmente, também enxergo outras cores.
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Protógenes e a "censura do bem"
O que primeiro chama a atenção no fato do Deputado Federal
do PC do B de São Paulo, Protogenes Queiroz, querer que tirem dos cinemas o
filme TED é a patetice de ir a um filme para maiores de 16 anos com o filho de
11, ficar escandalizado e tentar enquadrá-lo como se fosse um filme infantil
com mensagens que desvirtuariam as crianças e a juventude. Também acho isso
motivo de riso, mas eu vejo outra coisa nesse episódio: o autoritarismo e o ainda
presente gosto pela censura.
Pessoas e instituições com poder, como governos, chefes, etc.
costumam censurar algo ou alguém basicamente por duas razões: para manter o
poder e privilégios ou por uma suposta vontade de proteger os "mais
fracos", que teriam menos discernimento pra entender as coisas,
diferenciar o que é certo ou errado (conceitos muitas vezes discutíveis), ou
seja, para proteger aqueles que ele considera menos capazes. Eu tenho mais medo
do segundo tipo. O primeiro é claramente canalha, se ele é disfarçado a máscara
cai facilmente. Já o segundo... o segundo vem acompanhado de uma aura de boas
intenções, de defesa da moral e dos oprimidos, movido por uma pretensa vontade
de fazer o bem. É um tipo de censura que coloca quem vai contra ela como
alienados, ingênuos ou mal intencionados, em um tipo de raciocínio ultrapassado
de quem só enxerga as coisas em preto e branco, 8 ou 80.
É um pensamento que infantiliza, supondo que as pessoas não
podem pensar por si mesmas, já que não têm discernimento para definir o que
elas é bom ou ruim, o que consideram apropriado ou não. Esse pensamento é
primo-irmão daquele expresso em várias campanhas políticas, quando o candidato
se coloca como o pai dos pobres, o ungido que vai “cuidar” das pessoas.
Eu digo não a qualquer tipo de censura, eu quero poder ler,
assistir e ouvir o que tiver vontade, quero eu mesmo definir o que é bom pra
mim ou pros meus filhos, se os tivesse. Portanto, obrigado, deputado, eu
dispenso sua tentativa de salvar os valores morais e de me dizer o que eu devo ou
não assistir.
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